segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"Falta de investimentos compromete o desenvolvimento de pesquisas", inovação tecnológica e do fator humano no Brasil

Carlos Dei

Em 12 de Outubro se comemora o Dia da Criança. Parabéns a todas elas. Mas, afinal, que melhor presente poderíamos oferecer às nossas crianças? Um domingo no parque ou no shopping, um brinquedo sofisticado, uma bicicleta, um game, um smartphone, um carrinho eletrônico, um notebook?
  Nada disso é possível sem que haja investimentos em pesquisas e inovações tecnológicas indispensáveis ao desenvolvimento e crescimento do país em suas “áreas estratégicas como petróleo e gás, ciências do mar, biotecnologia, nanotecnologia, biomassa e energias alternativas, semicondutores e softwares; fármacos e medicamentos” (como analisa o reitor da UnB, José Geraldo de Souza Junior) e muito especialmente na educação de base, como prioridade, a exemplo a Coreia do Sul que, de um país com a população na miséria na década de 50, em que em cada três coreanos, um era analfabeto, para a realidade atual em que oito em cada dez chegam à universidade, e o país cresceu à média de 9% durante três décadas, alçando-a ao nível dos países desenvolvidos (ditos do primeiro mundo), com uma “sólida massa crítica de cientistas que forma todos os anos” e investimentos em inovação tecnológica.
  Há não muito tempo, o micro-empresário, pesquisador, inventor carioca, José Fonseca, da Liatec, se deparou com a expressão “...quem sabe um dia nasce um Jobs brasileiro...”  do colunista Ancelmo Goes (O Globo), respondendo a este que provavelmente já tenham nascidos talentos iguais ou superiores a Steve Jobs, Bill Gates ou os recentes “garotos” do Facebook ou Google, porém lamentando que, se estes notáveis americanos tivessem nascidos no Brasil, não teriam chegado aonde chegaram. Fonseca disse que é contemporâneo do Jobs, tenta desenvolver tecnologias desde os 15 anos, mas nunca conseguiu um centavo sequer, seja de incentivos públicos ou da iniciativa privada, enfatizando que, se seu talento fosse para o futebol, certamente teria conseguido patrocínios diversos.
  Para José Fonseca , todos os programas do BNDES, Finep, Faperj, entre outros, voltados para as microempresas de tecnologia, não contemplam “nano” empresas com faturamento de R$ 200 mil/ano. Por esta razão, afirma que sequer a Apple, que começou numa garagem, com US$ 1.300, seria contemplada com a atual postura destas instituições públicas. “Além da falta de apoio financeiro, o estado brasileiro, com sua política fiscal e legislação trabalhista, inviabiliza 99 por cento do nascimento de talentos tecnológicos.”, observou.
José Fonseca foi mais além, dizendo que a América do sul não fabrica circuito integrado, que é peça fundamental na construção de aparelhos eletrônicos. Desta forma, um desenvolvedor precisa importar estas peças a um alto custo de impostos como se fosse um produto industrializado qualquer. E, no seu ponto de vista, só as grandes corporações com seus corpos jurídicos, conseguem isenção, salientando que, “apenas por estes detalhes dá para ver as dificuldades de fazer tecnologia em nosso país”, concluindo que, como um grande brasileiro, não desiste.
  Para justificar os cortes de verba no ministério, o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp diz ser necessária a participação determinada da iniciativa privada no financiamento de pesquisa e inovação, tendo a concordância de Geraldo de Souza, ao observar que o Brasil não tem tradição de contribuição da iniciativa privada em pesquisas necessárias ao crescente desenvolvimento do País.  Para ele essa situação precisa mudar urgentemente, considerando que a competição internacional é cada vez mais acirrada em relação à pesquisa de ponta e à inovação tecnológica.
  Tendo o século XXI a perspectiva de ser definido como o século do conhecimento, o membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Isaac Roitman acredita que é fundamental o investimento em pesquisa, pois a produção do saber, o desenvolvimento tecnológico e a inovação definirão as condições sócio-econômicas do país, influenciando a qualidade de vida e a melhoria de indicadores como a mortalidade infantil, a expectativa de vida, entre outro. Ele contata que “para que haja pesquisa de qualidade, é fundamental o investimento na formação de recursos humanos e fomento que possibilite o avanço nas pesquisas”, assegurando que os principais entraves para o avanço de pesquisas no Brasil é a burocracia na importação do material de consumo e de equipamentos, bem como a falta de recursos.
  Isaac Roitman acha cinzento o horizonte brasileiro sem o investimento em ciência, tecnologia e inovação, observando que a alta produtividade e competitividade no mundo globalizado são dimensões que definirão entre o Brasil ser um país independente ou colonizado. E, embora o país tenha um panorama econômico satisfatório, devido à exportação de produtos sem valor agregado, a nossa soberania pode ficar ameaçada quando esses produtos se esgotarem, somando-se com a ausência do desenvolvimento de ciência e tecnologia que poderá elevar os níveis de dependência. Enfim, empurrando-nos precipício abaixo.
  Pode-se achar que há exagero nestas constatações, mas, não podemos deixar de considerar a opinião de cientistas e catedráticos no assunto, ressaltando que o investimento em pesquisas, ciência e inovação tecnológica é fundamental. Não esquecendo, entretanto, que ainda mais fundamental é o desenvolvimento do fator humano, para que toda essa inovação tecnológica não transforme nossas crianças (ou até nós) em autômatos, que não enxerguem nem sintam o outro ao seu lado, apenas executem determinações sistêmicas em função da produção, do consumo, da indiferença, do descarte, de um caos anunciado. E assim daremos  de presente a nossas crianças a perspectiva de uma família estável, de uma boa saúde, de uma educação de qualidade, de uma perspectiva de futuro sólido.
(Com informações do Portal da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT e Jornal da Ciência - SBPC)





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