sábado, 5 de março de 2011

Jornal Ícone - Novo chip brasileiro


Após passarem pela Unicamp e CTI, pesquisadores da UFMS desenvolvem primeiro processador do Mato Grosso do Sul, que apresenta tecnologia inédita e alternativa para redução do tamanho dos processadores (divulgação)

Elton Alisson

Ag. Fapesp – Pesquisadores do Departamento de Engenharia Elétrica e da Faculdade de Computação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) começaram a ingressar em uma área até então dominada no Brasil por cientistas situados nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul.
No início de janeiro eles concluíram o desenvolvimento do primeiro chip (circuito integrado) projetado e implementado no Mato Grosso do Sul.
Voltado para utilização em qualquer aparelho eletrônico, como computadores, celulares e tocadores de música digitais, o dispositivo apresenta uma tecnologia inédita no mercado de equipamentos eletroeletrônicos.
Enquanto os chips atuais possuem dois níveis lógicos de tensão elétrica, que convertem os sinais analógicos da energia recebida diretamente de uma tomada convencional em sinais digitais, o novo dispositivo é um conversor analógico digital que trabalha com múltiplos níveis lógicos. Em função disso, é bem menor e pode agregar mais funcionalidades do que um chip convencional.
“Essa tecnologia pode ser uma alternativa para a redução do tamanho e para a agregação de mais funcionalidades pelos chips, que são duas das principais tendências na indústria de microeletrônica hoje”, disse Ricardo Ribeiro dos Santos, professor da Faculdade de Computação da UFMS, à Agência FAPESP.
Para desenvolver o novo dispositivo, pesquisadores da UFMS começaram a vir nos últimos anos para universidades e instituições de pesquisa em São Paulo, como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), para cursar doutorado e realizar treinamento em microeletrônica e em projetos de chips.
Após ganhar experiência na área, iniciaram o projeto do desenvolvimento do dispositivo no Centro de Tecnologia de Eletrônica e Informática (CTEI) do Mato Grosso do Sul, que conta com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (Fundect). Mas, como o Brasil ainda não possui uma fábrica de chips que domine a tecnologia de produção de transistores com 350 nanômetros (bilionésima parte do metro), ao terminar de projetar o dispositivo, os pesquisadores decidiram encaminhá-lo para a França para ser fabricado pela empresa Circuits Multi-Projets (CMP), que realiza a prototipagem e produz processadores em pequena quantidade.
No início de janeiro, a empresa francesa enviou para os pesquisadores um lote com oito unidades do dispositivo, que estão sendo testados no CTEI.
“A proposta com esse primeiro processador está mais focada em demonstrar a viabilidade de se desenvolver um conversor analógico digital que atue em múltiplos níveis. Mas temos uma leva de outros chips que pretendemos prototipar baseados na tecnologia de lógica de múltiplos níveis”, disse Santos.
De acordo com o pesquisador, essa tecnologia, originada na década de 1960, ainda não é muito pesquisada no Brasil e até hoje não conseguiu emplacar no mercado de eletroeletrônicos uma vez que os circuitos eletrônicos baseados em lógica binária, adotados pelos fabricantes de equipamentos, funcionaram muito bem até recentemente.
Mas, nos últimos dez anos, começou a se verificar que a lógica binária apresenta limitações para miniaturizar os circuitos eletrônicos digitais, incluindo os processadores, que têm a demanda de se tornar cada vez mais ínfimos e imperceptíveis nos aparelhos eletrônicos.
“Os pesquisadores que atuam nessa área passaram a olhar para várias alternativas para atingir esse objetivo, como outros tipos de materiais em vez do silício ou para outras áreas, como a física quântica. A lógica de multiníveis seria outra via para projetar chips cada vez mais menores e com diversas funções”, afirmou Santos.

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