quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Jornal Ícone ed. 223 - Fio Terra para Leigos

Paulo Brites

Há poucos dias eu estava no balcão de uma loja comprando algumas tomadas para fazer uma extensões decentes para o meu “laboratório particular’ onde realizo minhas pesquisas e reparo alguns vintages que aparecem de vez em quando e de repente vejo um “eletricista” que estava por ali orientando um cliente sobre a questão do fio terra. Vou tantas asneiras faladas em dois minutos que eu não me contive e acabei metendo o bedelho na conversa dos outros.
O Zé Faísca me olho espantado e quando viu que ia perde a contenda saiu de fininho e evaporou no ar como fumaça (aliás, ele já deve estar acostumado com fumaça, fogos de artifícios e coisas do gênero).
Quando o Carlos Dei ficou me cobrando a matéria para este mês fiquei dando “tratos a bola” para ver sobre o que escrever.
Foi que me veio a mente o “episódio” que bem poderia virar um quadro do programa pânico (literalmente) e lembrei deste artigo que havia colocado no meu site há algum tempo.
Pra quem não leu, leia agora e quem leu “vale a pena ler de novo”.
Este é um tema sobre o qual se ouve bastante “opiniões” entre os leigos e até mesmo entre os pseudo-eletricistas ou emendadores de fio.
Como o próprio título do post indica, não é minha intenção fazer um tratamento extremamente teórico o que não significa que irei passar por cima de pontos fundamentais.
No passado não se dava muita atenção ao sistema de aterramento na rede elétrica, popularmente conhecido como “fio terra”, haja vista que todos ou quase todos os prédios antigos não dispõem deste importantíssimo item de segurança não só para os modernos equipamentos eletrônicos, mas principalmente para os humanos que os manuseiam.
Pode-se dizer que o aterramento está para a eletricidade assim como o cinto de segurança está para o motorista ou o capacete para o motociclista: você pode deixar de usar, mas ...
Felizmente esta realidade começou a mudar graças à Lei Federal nº 11.337 de
26/07/2006, que entrou em vigência a partir de dezembro de 2007 e estipulou em seu Art.1º que:

“As edificações cuja construção se inicie a partir da vigência desta Lei deverão obrigatoriamente possuir sistema de aterramento e instalações elétricas compatíveis com a utilização do condutor-terra de proteção, bem como tomadas com terceiro contato correspondente.”
Antes de prosseguir é bom que se esclareçam duas questões que costumam ser confundidas por muita gente:
a)             a diferença entre neutro e terra
b)            chamar neutro e/ou terra de negativo.
Em primeiro lugar é importante que fique bem claro que em “corrente” alternada não se define um terminal como positivo e outro como negativo uma vez que os terminais alternam de polaridade a cada meio ciclo.


O que os mal informados chamam de negativo é o terminal que não dá choque e que na verdade é o neutro. Mas adiante veremos porque ele não dá choque.
Passemos agora a entender a diferença entre “terra” e neutro e nada melhor para isso que recorrermos às definições.
- NEUTRO:  CONDUTOR FORNECIDO PELA CONCESSIONÁRIA (JUNTO COM A(S) FASE(S) PARA O RETORNO DA CORRENTE ELÉTRICA.
- TERRA: HASTE METÁLICA LIGADA A TERRA (pode ser um “buraco no chão”, mesmo) NA ENTRADA DE ALIMENTAÇÃO E QUE NÃO DEVE APRESENTAR CORRENTE CIRCULANTE.
Resumindo no neutro passa corrente enquanto no ‘terra’ não.
E qual o objetivo do fio terra também tecnicamente designado por PE (proteção elétrica)?
O primeiro objetivo do aterramento é (ou deveria ser) proteger as pessoas e o segundo é proteger os equipamentos.

Em primeiro lugar vamos entender como o aterramento protege as pessoas.
Quando eu digo “proteger” estou me referindo a evitar que se leve choque ao tocar na carcaça metálica de um equipamento.
Talvez valha a pena abrir um parêntese aqui para explicar esta questão do choque elétrico e também falar sobre um tópico que ficou pendente lá trás sobre porque o neutro não dá choque.
Para sentirmos choque precisamos tocar simultaneamente em dois pontos onde haja uma diferença de potencial elétrico, mais comumente chamada de tensão ou voltagem para fazer circular uma determinada corrente elétrica em nosso corpo.
Muita gente acha surpreendente que os pássaros pousem nos fios de distribuição de energia espalhados pela cidade e não morram eletrocutados.
O motivo é óbvio. Eles não colocam as patinhas em dois fios ao mesmo tempo (não porque tenham estudado física, mas porque a outra patinha não chega lá!) e aí não há diferença de potencial entre uma patinha e a outra (ainda bem).
Antes de prosseguir vou deixar uma pergunta no ar e convido você a fazer um comentário para que possamos estabelecer um debate sobre o assunto: - o que é que produz o choque: a tensão ou a corrente? Pense nisso.

Como a eletricidade chega às nossas casas?

Na entrada de nossas casas recebemos dois ou mais fios fornecidos pela concessionária de energia elétrica.
Tratemos, por enquanto, do fornecimento com dois fios apenas em que um é chamado fase (ou vivo) e o outro chamado neutro (que jamais deverá ser chamado de negativo ou de terra). 

Por uma “manobra” que não cabe explicar aqui a concessionária faz com que a diferença de potencial entre o fio neutro e a Terra (planeta Terra) seja igual a zero volt. Portanto, se tocarmos no fio neutro não levaremos choque, uma vez que não há diferença de potencial entre o neutro e  a Terra (chão), já que nós estamos em contato com a Terra e portanto não irá circular nenhuma corrente elétrica pelo nosso corpo.
 E por que antigamente não se dava muita importância ao aterramento (pelo menos no Brasil) e hoje se dá?
 Ocorre que os equipamentos eletrônicos modernos são muito sensíveis à eletricidade estática, daí a necessidade de se descarregar para a Terra esta eletricidade “invisível” que pode prejudicar e até danificar os componentes eletrônicos dos equipamentos.
Ah! Então quer dizer que as pessoas são menos importantes que os equipamentos por isso, antigamente o fio terra não era necessário?
Deixo por sua conta tirar as conclusões, o fato é que ainda bem que para salvar os equipamentos (e por tabela as pessoas) o aterramento se tornou obrigatório até nas instalações residenciais.

E onde conseguir “esse” terra? Você não está pensando em enfiar um pedaço de fio num vaso de planta, não é mesmo?

Devo adiantar que não sou um especialista no assunto até porque o tópico aterramento é uma especialização da engenharia elétrica. Vou me ater aqui a considerações de ordem prática enfatizando, principalmente, o que não se deve fazer.
O aterramento deve ser obtido na entrada de distribuição de energia da residência através de uma haste metálica introduzida na terra. Quanto à dimensão desta haste, sugiro que você consulte a literatura especializada ou as normas da concessionária. Vale ressaltar também que em grandes consumidores os sistemas de aterramento são mais complexos e devem ser realizados por empresas com profissionais especializados.

E de onde vem o neutro?

Diferentemente do “terra”, que é de responsabilidade do consumidor,  o neutro é fornecido pela concessionária de energia elétrica.
 A forma mais comum de fornecimento de energia é conhecida como monofásica e como o próprio nome indica e composta de uma fase.
 Neste caso a concessionária entrega dois fios na caixa de entrada onde está instalado o “relógio de luz” sendo que um é a fase e o outro o neutro; o terra fica por sua conta e deverá ser instalado conforme já foi mencionado acima.
 Se a rede for bifásica você receberá três fios, sendo duas fases e um neutro.
 A tensão entre as fases será 220 V e entre cada fase e 127 V entre cada fase e o neutro.
 A tensão medida entre neutro e terra deveria ser igual a zero volt. Na prática encontraremos um valor maior que zero, mas se for até 10 V está aceitável.

Erros comuns

As tomadas brasileiras atuais têm três pinos, sendo que o pino central corresponde ao aterramento tecnicamente denominado PE ou PEN.


Este terceiro pino que é novidade por aqui já existia nos equipamentos importados cujas tomadas já tinham este pino para aterramento.
E o que nós brasileiros fazíamos? Cortávamos este “maldito” pino que “não devia servir pra nada mesmo” já que o aparelho funcionava sem ele.
Havia até no mercado uma tomada adaptadora do tipo entra três sai dois e que evitava ter que cortar o pino para não perder a garantia.

Os mais “cautelosos” não cortavam o terceiro pino e faziam pior ainda, ligavam o neutro ao terminal de terra lá na tomada!
Pelo Amor de Deus, não façam isso. Jamais liguem o neutro ao terra.
Já que é pra fazer errado cortem o terceiro pino que é “menos pior”.
Lembrem-se sempre da regra básica: - neutro é neutro e terra é terra.  Neutro não funciona como terra.
Por enquanto é só.
Ah! Já ia me esquecendo de uma coisa importante. A NBR 5410, norma da ABNT que estabelece os critérios para uma instalação elétrica correta, exige que se use fio da cor azul claro para o neutro e verde ou verde e amarelo para o aterramento.  Respeitar esta norma com certeza vai ajudar bastante.
Se você gostou faça um comentário. Se não gostou, também.
Se quiser sugerir um tema para ser abordado no site (www.paulobrites.com.br) sinta-se à vontade.

Até sempre.


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