Paulo Brites
Há poucos dias eu estava no
balcão de uma loja comprando algumas tomadas para fazer uma extensões decentes
para o meu “laboratório particular’ onde realizo minhas pesquisas e reparo
alguns vintages que aparecem de vez em quando e de repente vejo um
“eletricista” que estava por ali orientando um cliente sobre a questão do fio
terra. Vou tantas asneiras faladas em dois minutos que eu não me contive e
acabei metendo o bedelho na conversa dos outros.
O Zé Faísca me olho espantado
e quando viu que ia perde a contenda saiu de fininho e evaporou no ar como
fumaça (aliás, ele já deve estar acostumado com fumaça, fogos de artifícios e
coisas do gênero).
Quando o Carlos Dei ficou me
cobrando a matéria para este mês fiquei dando “tratos a bola” para ver sobre o
que escrever.
Foi que me veio a mente o
“episódio” que bem poderia virar um quadro do programa pânico (literalmente) e
lembrei deste artigo que havia colocado no meu site há algum tempo.
Pra quem não leu, leia agora e
quem leu “vale a pena ler de novo”.
Este é um tema sobre o qual se
ouve bastante “opiniões” entre os leigos e até mesmo entre os
pseudo-eletricistas ou emendadores de fio.
Como o próprio título do post
indica, não é minha intenção fazer um tratamento extremamente teórico o que não
significa que irei passar por cima de pontos fundamentais.
No passado não se dava muita
atenção ao sistema de aterramento na rede elétrica, popularmente conhecido como
“fio terra”, haja vista que todos ou quase todos os prédios antigos não dispõem
deste importantíssimo item de segurança não só para os modernos equipamentos
eletrônicos, mas principalmente para os humanos que os manuseiam.
Pode-se dizer que o
aterramento está para a eletricidade assim como o cinto de segurança está para
o motorista ou o capacete para o motociclista: você pode deixar de usar, mas
...
Felizmente esta realidade
começou a mudar graças à Lei Federal nº 11.337 de
26/07/2006, que entrou em
vigência a partir de dezembro de 2007 e estipulou em seu Art.1º que:
“As edificações cuja construção
se inicie a partir da vigência desta Lei deverão obrigatoriamente possuir
sistema de aterramento e instalações elétricas compatíveis com a utilização do
condutor-terra de proteção, bem como tomadas com terceiro contato
correspondente.”
Antes de prosseguir é bom que
se esclareçam duas questões que costumam ser confundidas por muita gente:
a) a diferença entre neutro e terra
b) chamar neutro e/ou terra de negativo.
Em primeiro lugar é importante
que fique bem claro que em “corrente” alternada não se define um terminal como
positivo e outro como negativo uma vez que os terminais alternam de polaridade
a cada meio ciclo.
O que os mal informados chamam de negativo é o terminal que não dá choque e que na verdade é o neutro. Mas adiante veremos porque ele não dá choque.
Passemos agora a entender a
diferença entre “terra” e neutro e nada melhor para isso que recorrermos às
definições.
- NEUTRO: CONDUTOR FORNECIDO PELA CONCESSIONÁRIA (JUNTO
COM A(S) FASE(S) PARA O RETORNO DA CORRENTE ELÉTRICA.
- TERRA: HASTE METÁLICA LIGADA
A TERRA (pode ser um “buraco no chão”, mesmo) NA ENTRADA DE ALIMENTAÇÃO E QUE
NÃO DEVE APRESENTAR CORRENTE CIRCULANTE.
Resumindo no neutro passa
corrente enquanto no ‘terra’ não.
E qual o objetivo do fio terra
também tecnicamente designado por PE (proteção elétrica)?
O primeiro objetivo do
aterramento é (ou deveria ser) proteger as pessoas e o segundo é proteger os
equipamentos.
Em primeiro lugar vamos
entender como o aterramento protege as pessoas.
Quando eu digo “proteger”
estou me referindo a evitar que se leve choque ao tocar na carcaça metálica de
um equipamento.
Talvez valha a pena abrir um
parêntese aqui para explicar esta questão do choque elétrico e também falar
sobre um tópico que ficou pendente lá trás sobre porque o neutro não dá choque.
Para sentirmos choque
precisamos tocar simultaneamente em dois pontos onde haja uma diferença de
potencial elétrico, mais comumente chamada de tensão ou voltagem para fazer
circular uma determinada corrente elétrica em nosso corpo.
Muita gente acha surpreendente
que os pássaros pousem nos fios de distribuição de energia espalhados pela
cidade e não morram eletrocutados.
O motivo é óbvio. Eles não
colocam as patinhas em dois fios ao mesmo tempo (não porque tenham estudado
física, mas porque a outra patinha não chega lá!) e aí não há diferença de
potencial entre uma patinha e a outra (ainda bem).
Antes de prosseguir vou deixar
uma pergunta no ar e convido você a fazer um comentário para que possamos
estabelecer um debate sobre o assunto: - o que é que produz o choque: a tensão
ou a corrente? Pense nisso.
Como a eletricidade chega às
nossas casas?
Na entrada de nossas casas
recebemos dois ou mais fios fornecidos pela concessionária de energia elétrica.
Tratemos, por enquanto, do
fornecimento com dois fios apenas em que um é chamado fase (ou vivo) e o outro
chamado neutro (que jamais deverá ser chamado de negativo ou de terra).
Por uma “manobra” que não cabe
explicar aqui a concessionária faz com que a diferença de potencial entre o fio
neutro e a Terra (planeta Terra) seja igual a zero volt. Portanto, se tocarmos
no fio neutro não levaremos choque, uma vez que não há diferença de potencial
entre o neutro e a Terra (chão), já que
nós estamos em contato com a Terra e portanto não irá circular nenhuma corrente
elétrica pelo nosso corpo.
E por que antigamente não se
dava muita importância ao aterramento (pelo menos no Brasil) e hoje se dá?
Ocorre que os equipamentos
eletrônicos modernos são muito sensíveis à eletricidade estática, daí a
necessidade de se descarregar para a Terra esta eletricidade “invisível” que
pode prejudicar e até danificar os componentes eletrônicos dos equipamentos.
Ah! Então quer dizer que as
pessoas são menos importantes que os equipamentos por isso, antigamente o fio
terra não era necessário?
Deixo por sua conta tirar as
conclusões, o fato é que ainda bem que para salvar os equipamentos (e por
tabela as pessoas) o aterramento se tornou obrigatório até nas instalações
residenciais.
E onde conseguir “esse” terra?
Você não está pensando em enfiar um pedaço de fio num vaso de planta, não é
mesmo?
Devo adiantar que não sou um
especialista no assunto até porque o tópico aterramento é uma especialização da
engenharia elétrica. Vou me ater aqui a considerações de ordem prática
enfatizando, principalmente, o que não se deve fazer.
O aterramento deve ser obtido
na entrada de distribuição de energia da residência através de uma haste
metálica introduzida na terra. Quanto à dimensão desta haste, sugiro que você
consulte a literatura especializada ou as normas da concessionária. Vale
ressaltar também que em grandes consumidores os sistemas de aterramento são
mais complexos e devem ser realizados por empresas com profissionais
especializados.
E de onde vem o neutro?
Diferentemente do “terra”, que
é de responsabilidade do consumidor, o
neutro é fornecido pela concessionária de energia elétrica.
A forma mais comum de
fornecimento de energia é conhecida como monofásica e como o próprio nome
indica e composta de uma fase.
Neste caso a concessionária
entrega dois fios na caixa de entrada onde está instalado o “relógio de luz”
sendo que um é a fase e o outro o neutro; o terra fica por sua conta e deverá
ser instalado conforme já foi mencionado acima.
Se a rede for bifásica você
receberá três fios, sendo duas fases e um neutro.
A tensão entre as fases será
220 V e entre cada fase e 127 V entre cada fase e o neutro.
A tensão medida entre neutro e
terra deveria ser igual a zero volt. Na prática encontraremos um valor maior
que zero, mas se for até 10 V está aceitável.
Erros comuns
As tomadas brasileiras atuais
têm três pinos, sendo que o pino central corresponde ao aterramento
tecnicamente denominado PE ou PEN.
Este terceiro pino que é
novidade por aqui já existia nos equipamentos importados cujas tomadas já
tinham este pino para aterramento.
E o que nós brasileiros
fazíamos? Cortávamos este “maldito” pino que “não devia servir pra nada mesmo”
já que o aparelho funcionava sem ele.
Havia até no mercado uma
tomada adaptadora do tipo entra três sai dois e que evitava ter que cortar o
pino para não perder a garantia.
Os mais “cautelosos” não
cortavam o terceiro pino e faziam pior ainda, ligavam o neutro ao terminal de
terra lá na tomada!
Pelo Amor de Deus, não façam
isso. Jamais liguem o neutro ao terra.
Já que é pra fazer errado
cortem o terceiro pino que é “menos pior”.
Lembrem-se sempre da regra
básica: - neutro é neutro e terra é terra.
Neutro não funciona como terra.
Por enquanto é só.
Ah! Já ia me esquecendo de uma
coisa importante. A NBR 5410, norma da ABNT que estabelece os critérios para
uma instalação elétrica correta, exige que se use fio da cor azul claro para o
neutro e verde ou verde e amarelo para o aterramento. Respeitar esta norma com certeza vai ajudar
bastante.
Se você gostou faça um
comentário. Se não gostou, também.
Se quiser sugerir um tema para
ser abordado no site (www.paulobrites.com.br) sinta-se à vontade.
Até sempre.
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