Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam
barreiras, outras constroem moinhos de vento.
Érico Veríssimo
Ficamos felizes ao conquistarmos a duras penas, muita luta e
ao custo de muitas vidas a redemocratização do país, o voto direto, a liberdade
de expressão e de escolha; elegemos nossos candidatos (e nem sempre acertamos),
vimos a alternância de poder da direita para o centro, para a esquerda. Ops, ‘esquerda’?
etc, etc, etc... O fato é que, teoricamente, aparentemente, e até
concretamente, muita coisa mudou e continuamos sonhando com a conquista de uma
cidadania digna, do nosso tamanho e necessidade, com o retorno dos impostos
escorchantes que sempre pagamos, através de educação, saúde, transporte,
habitação, alimentação de qualidade, acessíveis e de perspectiva de um futuro
melhor para nós, nossos filhos, netos...
O fato é que coletivamente fomos tomados por um sentimento
de descaso, descaminho e abandono, presenciando a má utilização dos recursos
públicos, a corrupção crescente, o eterno investimento em “elefantes brancos”,
o beneficiamento e enriquecimento ilícito de alguns, através das “comissões”
não declaradas, dos desvios de verba, dos roubos deslavados e descarados, dos
altos salários dos gestores públicos e da falta de punição para tais crimes, da
impunidade certa, de todo o ‘mal-caratismo’.
O certo é que cansamos de ser os eternos patinhos à deriva,
manipuláveis, tolos e imprevidentes, à custa de uma corja que se beneficia
sempre, em detrimento do bem-estar da população, dos nanos, micros e médios
empreendedores que carregam nas costas o progresso desse país, país esse que
também conquistou um ‘neo-crescimento econômico’ que o alçou à condição de novo
eldorado, Brics, etc, etc, etc, mas em que a falta de transparência e a má
gestão pública vai nos deixando à mingua, sempre de pires na mão.
Ficamos felizes em ver o gigante acordando, e tomara que
prevaleça nesse imprevisível redemoinho coletivo a força, a união, o objetivo
centrado, sempre com a palavra de ordem da paz e do interesse comum, do
respeito ao direito do outro, para estabelecermos de vez a dignidade da nossa
cidadania para que os ventos de mudança limpem de vez, das intituições, os
oportunistas e aproveitadores, que tanto nos prejudicam.
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