“Os tiranos
são déspotas
em seu próprio nome.
Os juízes são-no
em nome da Lei”
Pitágoras
E a sociedade?
Dia destes
vi uma foto, não me lembro de qual país, em que, embora o filho fosse um
bandido assumido, que acabara de ser preso por vários policiais armados e
“furiosos”, a mãe, num rompante de coração e aço, de amor e justiça, de espanto
e de coragem, estava com um facão ameaçador encostado no pescoço do policial -
que segurava seu filho com uma chave de braço no pescoço deste - e os demais
tentavam dissuadi-la daquele ato “insano”. A legenda lembrava algo assim: até
quando filhos irão expor as mães a esse tipo de perigo?.
Está em
debate em todos os segmentos sociais a questão da redução da maioridade penal.
Os crimes hediondos cometidos agora viram clamor social, dos mais extremos, e
todos querem uma decisão imediata a respeito da questão. “Eduquem as crianças e
não será necessário castigar os homens”, já dizia o velho Pitágoras muitos anos
antes de Cristo. Agora não seria necessário castigar o jovem. Quem comete um crime
deve pagar por ele, acredito que este entendimento seja cristalino como uma
água pura da fonte..
Mas, me
pergunto: quem quer educar as crianças e os jovens para não castigá-los mais à
frente?
Conversando
com uma professora, aqui no Rio de Janeiro, ela me dizia que essa equação é
muito complexa, comentando o seu exemplo, em alguns momentos de sua vida teve
turma com 120 alunos, completamente desinteressados em pesquisar, debater, ler,
etc, e desafiadores. Ela, franzina, se impunha com a palavra e só iniciava as
aulas, quando o último estivesse dentro da sala e sentado. E quando algum
começava com uma gracinha e ela reclamava, ele perguntava se estava
atrapalhando. Então, ela respondia, num tom sarcástico, para provocá-lo: “você
não está me atrapalhando, você está se atrapalhando, porque eu tenho um diploma
e um emprego. E se estou aqui é para contribuir para que você avance e
conquiste o seu diploma, o seu emprego, sua autonomia e melhor condição de
vida, e tudo só depende da sua vontade”. O aluno resmungava que ela era “cheia
de marra”. (Risos)
Pode parecer
uma atitude arrogante, mas, comentava ela que a coisa é muito cruel, pois nem o
estado (RJ), nem a prefeitura (Rio) tem uma política educacional coerente com o
que pregam, soando tudo como um faz de contas só, pois tanto um quanto o outro
exigem do professor que o aluno simplesmente seja aprovado, ‘pelo menos com uma
nota 5’, para engordar as estatísticas educacionais, a ponto de: o professor
ter direito a um abono de R$ 500, no final do ano se a estatística da escola
subir significativamente (já entenderam em que merda se chega essa sociedade,
né!) e um diretor chegar ao cúmulo de pedir ao professor que dê pontuação por
aula e, depois, aplique algum teste de conhecimento ou aprendizado. Para este
tipo de diretor(a) ela responde, “se for desta forma, então eu envio as notas
pelo correio (tradicional ou eletrônico) e fico em casa lendo um romance,
ouvindo ou fazendo música, descansando, me divertindo. Para que ir até a sala
de aula?”.
Reafirmo,
quem comete um crime, tem que pagar por isso, de acordo com a Justiça. É a lei.
Então, retomemos, como fica a questão da redução da maioridade penal? Como fica
a questão da moradia, em que famílias “sem-teto” invasoras de prédios públicos
abandonados continuam ‘invasores’, morando ao relento, e os prédios
recuperados, são lacrados e novamente abandonados ao apodrecimento, sem função
social? Como é que jovens não se sentirão seduzidos por uma vida fácil e pelo
crime, que gera ganhos sem precisar fazer um concurso ou trabalhar duro e
honestamente, quando os maus exemplos de roubos e crimes são quase um lugar
comum em toda a hierarquia social, e são “vendidas” nas notícias diárias dos
jornais e televisão, além do que, “bandidos de colarinho branco”, sempre se dão bem, não ficam presos ou ficam
por pouquíssimo tempo e são sempre beneficiados por uma “lei relativa”, aberta
a mis interpretações, sempre favoráveis aos “possuidores” de riquezas
materiais, aos corruptos e corruptores, aos “vendilhões”, aos subornáveis?
Gostaria de
entender. Mas, gostaria mesmo de mudar essa realidade. E uma realidade só se
muda, quando toda a sociedade se empenha para ser digna e respeitar a dignidade
do outro, quando não se oferece 10, 20, 30, 40, 50 'pratas' (ou mais, muito
mais, ao guarda, ao policial, ao delegado, ao juiz) para tentar se livrar de um
flagrante delito, de um escorrego, de um erro, de uma multa de trânsito e
quando alguns agentes da “lei e da ordem” esquecem da sua real função e
importância na manutenção da “ordem pública” e no repeito à lei, que deveria
ser a mesma para todos, para que voltasse a ter importância singela o amor de
mãe (da maioria, pelo menos) que nunca abandona o filho, mesmo diante de um
grande desgosto ou de real situação de perigo, de um “endurecimento” do seu
coração ante realidade por demais cruel no cotidiano.
Abraços!
Notas:
1. A frase
título deste editorial originariamente é
do poeta Coelho Neto - "Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração!"; posteriormente foi utilizada por Caetano Veloso e
Torquato Neto, na composição
“Mamãe Coragem” (no álbum “Tropicália ou Panis et Circencis”/1968), suprindo "...o coração!" e acrescentando “...os corações dos filhos.../”
2. A
ilustração da capa é composta com a reprodução da obra “Maternidade Kamayura”,
do artista plástico baiano Élon Brasil e de imagem digital reproduzida:
http://www.mastermagazine.info/termino/wp-content/uploads/digital.jpg
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