sexta-feira, 6 de junho de 2014

Jornal Ícone ed. 217 - Por que técnico em eletrônica precisa saber eletrônica?


Paulo Brites

Como assim, então é possível exercer a profissão de técnico em “alguma coisa” sem saber essa “coisa”?
Seria o mesmo que perguntar se para ser motorista precisa saber dirigir.
Bem precisar até que precisa, mas tem muita gente por aí que é motorista (e às vezes, até “profissional”) e não sabe dirigir.
Mas está é outra questão. Voltemos à eletrônica e ao técnico.
Basta passar alguns minutos navegando pelos fóruns que qualquer um vai constatar o que estou dizendo, ou melhor, afirmando.
Não me refiro aquele tipo de “técnico trocador de peça até ver se funciona” e sim ao que sabe o que como cada componente passivo funciona, como um transistor bipolar funciona, como um fet, funciona e por ai vai.

Conhecida esta parte denominada “eletricidade e eletrônica básica” o sujeito começa a ficar apto a entender os circuitos básicos.
Mas onde estudar e aprender estas coisas?
Quase sempre, quando estou ministrando algum curso, alguns alunos perguntam: - quanto tempo leva uma pessoa para aprender eletrônica e se tornar técnico?
Minha resposta é: no meu caso eu levei 4 anos mais 69!
Isso mesmo. Quatro anos foram na escola e mais a vida da toda.
Salvo o exagero, o que quero dizer é que não dá pra parar de estudar, porque como eu tenho dito “a fila anda”.
Mas, os quatro anos acadêmicos fizeram diferença no resto da minha vida.
Não dá pra construir um prédio firme se os pilares não forem bem feitos.
Há aqueles, e não são poucos, exercendo a profissão, e eu diria ilegalmente, que dizem que teoria é coisa pra engenheiro, porque na prática o que conta é a prática.
Contesto esta premissa veementemente. Se você tem uma boa formação teórica e “jeito” para o negócio a prática vem rápido, mas ao contrário jamais.

Com uma boa formação teórica o técnico será capaz de tirar conclusões, fazer experimentos mentais e colocá-los em prática rapidamente.
Entretanto, só com a prática e sem saber o que está fazendo, no primeiro momento que a coisa sair do corriqueiro o sujeito corre para os fóruns pra pedir dicas.
Alguém ai já pegou esse defeito? Me ajuda aí pelo amor de Deus que o cliente tá querendo me matar!
É ou não é assim?

O cara comprou um multímetro no trem, uma chave de fenda, um ferro de solda de “10 real” e colocou uma placa na porta do barraco: ConCerta-se tudo (isso mesmo com C).
Agora sai correndo para os fóruns para pedir ajuda, ou melhor, pra perguntar qual a “peça quem tem que trocar” e talvez ainda pergunte como é essa peSSa? Dá pra mandar uma foto?
Não sou contra trocar ideias com colegas de profissão, mas descrevendo todo o caminho que já foi percorrido, justificando porque chegou àquelas conclusões, enfim mostrando que já esgotou o seu arsenal de conceitos, mas alguma coisa ainda não foi percebida. Faltou o “bingo”! Como eu não pensei nisto antes.
Infelizmente, hoje no Brasil, pelo menos no Rio de Janeiro, está difícil encontrar bons cursos. Não estou dizendo que não tenha, mas vai ter que procurar com uma lupa (e das boas).
Está tudo sendo nivelado por baixo e os alunos cada vez mais exigentes.
Isso mesmo, “mais exigentes” para que o professor não “cobre” muito, ou seja, não ensine muito e deixem eles passarem.
Não faz muito tempo arranjei uma encrenca com alguns alunos num curso técnico porque eu estava exigindo muito. Imagina querer que eles soubessem fazer conta de dividir com a calculadora! Isso no nível médio. Que absurdo! Tá pensado que isso aqui é curso de engenharia!
Estão achando engraçado, mas é isso que rola por aí.

É claro que tem gente que está querendo o melhor, está querendo realmente aprender, mas acaba sendo atropelada por uma minoria, que, paradoxalmente, embora sendo minoria na sala de aula acaba tendo mais força e sendo vencida pela turma que quer o diploma e o CREA (é claro). E as escolas precisam faturar para pagar as contas (e ter lucro).
Já tive orgulho ter o CREA. Hoje nem tanto, qualquer um pode conseguir.
Se você pretende ser técnico autônomo vai ter que saber o que está fazendo. Agora, se é para trabalhar como terceirizado numa empresa como puxador de cabo, trocador de placa e etc., então dá pra ir empurrando com a barriga e fazendo o mínimo necessário na base da receita de bolo (mas não bota recheio que complica). Contanto que tenha o CREA!
Se por um lado a oferta de bons cursos presenciais está cada vez menor, por outro lado temos a Internet para ajudar.

Se o interesse é conhecimento e não o diploma, tem muita coisa boa na rede. Dá mais trabalho e exige mais disciplina e esforço, mas pode ser a saída até para quem tem dificuldade com horário e tem vontade de aprender.
Uma das propostas do meu site, num futuro próximo, é produzir material sobre eletricidade básica, eletrônica e matemática.
Em principio a ideia não é apresentar um curso formal, mas conhecimentos básicos de uma forma bem didática que embora trate de conceitos e teoria tenha sempre um vínculo com a aplicação prática.
Este é o meu projeto para breve.
Fique de olho, siga o blog www.paulobrites.com.br e curta a minha fanpage www.facebook.com/profpaulobrites.
Até sempre.















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