quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Jornal Ícone - ed. 223 - Os Eletrolíticos e os seus defeitos intrigantes nos Televisores Modernos


Waldyr Souto

Os capacitores eletrolíticos, apesar do seus princípios tão simples de funcionamento e formação física, são os maiores causadores de defeitos confusos e intrigantes, que podem levar o técnico a conclusões desastrosas sobre a localização de defeitos nos modernos televisores de Plasma, LCD e LED.
Na minha matéria deste mês, o leitor conhecerá os principais motivos das anormalidades apresentadas pelos capacitores eletrolíticos e como fazer algumas medições dos parâmetros mais importantes relacionados com os mesmos.
Os capacitores eletrolíticos se utilizam, na maioria das vezes, de placas de papel alumínio e dielétrico de óleo eletrolítico com espessura bem fina, o que permite capacitâncias mais altas com tamanhos bem menores.
O dielétrico é isolado por uma camada finíssima de óxido que se forma sobre o papel alumínio, em função de um processo eletroquímico. O papel alumínio é enrolado entre outro tipo de papel embebido com óleo eletrolítico. Veja a figura 01.







Quando a camada de óxido se rompe, o capacitor apresenta fuga ou curto.
Todo capacitor apresenta uma resistência interna, conhecida por ESR que atua como se fosse um resistor em série com ele. Observe a figura 02.

Quando o capacitor está novo, essa resistência apresenta-se com valor muito baixo ( Próximo de zero) não causando problema para o funcionamento do mesmo. Quando o capacitor envelhece, esta resistência aumenta de valor, interferindo na boa atuação dele. O envelhecimento do capacitor seca também o óleo eletrolítico, causando queda na sua capacitância.
Uma simples fuga, elevação da ESR ou pequena queda na capacitância já causam sintomas confusos e intrigantes nos aparelhos eletrônicos como: Ripple elevado, travamento ou mal funcionamento do micro, ativação da proteção, zumbidos e ruídos desagradáveis, intermitência de vários tipos, como: “só funciona bem depois que aquece ou quando está frio”, etc.
A sensibilidade ao calor acontece devido ao fato dos eletrodos assumirem uma superfície irregular, perdendo contacto com o óleo eletrolítico em alguns pontos, principalmente, ao envelhecerem, reduzindo assim o valor da capacitância e aumentando o valor da ESR.
Com o aumento da ESR e o aparelho ligado por algum tempo, a temperatura interna do capacitor aumenta, o que faz com que o óleo eletrolítico fique mais fino, voltando a ter contacto com muitos pontos dos eletrodos, fazendo o capacitor elevar novamente a sua capacitância, melhorando o funcionamento do aparelho depois de algum tempo ligado.
Por outro lado, o calor no interior do capacitor provoca elevação da fuga, o que pode fazer com que o aparelho apresente outros tipos de defeitos após funcionar por algum tempo.
Quando o aparelho permanece funcionando por muito tempo neste processo, o calor acaba escurecendo seu corpo, encolhendo a sua capa de plástico ou causando o estufamento da sua carcaça.

Verificação de Ripple:


Um dos defeitos que afeta bastante os aparelhos modernos de TV é o Ripple excessivo nas linhas de alimentação.

É bom lembrar que, nem sempre, os capacitores podem ser avaliados a olho, nem sempre estufam, nem sempre enrugam a capa e nem sempre ficam enegrecidos. O Osciloscópio pode ser usado para medir o RIPPLE e levantar uma suspeita sobre um determinado capacitor antes mesmo de ele ser retirado do circuito.
Sabemos que o Ripple é uma ondulação sobreposta à tensão DC causada pela perda de capacitância ou elevação da ESR dos eletrolíticos de filtro.
O Ripple é avaliado pelo percentual de ondulação, sobre a tensão nominal da fonte, ou seja, o valor da ondulação dividido pelo valor da tensão nominal da fonte. Ex: Se a voltagem da fonte é 12 volts e a ondulação (ripple) presente sobre essa voltagem é de 0,12 volt, o percentual de ripple será:
RIPPLE = 0,12/12 = 0,01volt (Um centésimo), ou seja: RIPPLE = 1 % (Veja a figura 3)
Este valor pode ser considerado alto para qualquer fonte secundária, já que o percentual de Ripple nessas linhas está abaixo de 0,1% e na linha de alimentação do micro está abaixo de 0,01%



Por outro lado, o Ripple na tensão maior, no primário da fonte, ultrapassa os 5% em situação normal.
A verificação pode ser feita com osciloscópio analógico ou digital de qualquer frequência de sensibilidade. Para fazer essa verificação, precisamos colocar a entrada do osciloscópio no modo AC (Acoplamento capacitivo).  Em seguida, é só aplicar a ponteira sobre cada capacitor suspeito com o televisor ligado.
Onde o Ripple se manifestar com valor mais alto que o esperado, indica que há um capacitor com problema. Daí é só retirar o tal capacitor para troca.
Atenção! Para fazer a medição no primário da fonte ou no PFC precisamos ter dois cuidados:
1º - No primário, a ponteira negativa do osciloscópio deve ser fixada no negativo do capacitor do primário, e não no terra geral do aparelho;
2º - Conferir qual a tensão máxima permitida na entrada do osciloscópio. A maioria dos osciloscópios admite tensões máximas em torno de 250 volts e nas fontes com PFC as voltagens ultrapassam os 300 volts. Neste caso, utilize uma ponteira atenuada X10.

Verificação de fuga e curto:

Para teste de fuga, o capacitor deve estar com, pelo menos, um terminal desligado da placa. Descarregue o capacitor e aplique um ohmímetro analógico na escala de RX10 K entre os seus terminais, cuidando para que a ponteira que representa o pólo negativo das pilhas esteja no menos do capacitor (Na maioria dos multímetros, é a ponteira vermelha que representa o pólo negativo das pilhas). O ponteiro deflexionará até o fundo da escala e retornará vagarosamente até a indicação de infinito. Se o valor do capacitor for muito alto e o ponteiro demorar muito pra retornar, use a escala de RX1K.
Se o ponteiro parar no meio do curso, antes de chegar a infinito, é porque o capacitor está com fuga. Se o ponteiro parar no fundo da escala (Zero Ohm), é sinal que o capacitor está em curto. Lembre-se que, com as ponteiras invertidas é normal o capacitor apresentar fuga.

Verificação da capacitância

A melhor maneira de checar a capacitância de um capacitor é utilizando-se de um capacímetro. Retire o capacitor da placa ou, remova a solda de, pelo menos, um terminal do mesmo.
Descarregue o capacitor e aplique as ponteiras do capacímetro nos terminais do mesmo. A capacitância deverá estar acima do valor especificado no corpo do capacitor. Valores iguais ou abaixo do indicado no seu corpo, levam à suspeita de problema, e aconselha-se substituir o capacitor.

Verificação da ESR:

Essa resistência é geralmente muito baixa quando o capacitor é novo e de boa qualidade, na ordem de milésimos do ohm. Em um capacitor ideal, essa resistência seria de 0 Ω .
Acontece que, quando o capacitor vai envelhecendo, o valor dessa resistência vai aumentando, numa velocidade, que varia em função do regime de funcionamento e da qualidade do capacitor, causando um mau funcionamento, principalmente em circuitos de altas frequências, como é o caso de fontes chaveadas. Em determinados capacitores, uma ESR próxima de 2 Ω pode desarmar uma fonte ou permitir que um determinado circuito do aparelho pare de funcionar.
A ESR é um mal invisível, que age silenciosamente, já que não pode ser medida diretamente, nem com um capacímetro, nem com um multímetro. Somente quando essa resistência chega a valores muito altos, o calor interno acaba, estufando ou encolhendo a capa do capacitor, tornando o problema visível. Quantas vezes você já testou um capacitor suspeito, o qual se apresentou como bom e, ao trocá-lo, o aparelho voltou a funcionar?
O método a seguir permite verificar a ESR dos capacitores suspeitos com uso do osciloscópio, sem retirá-los do circuito, podendo-se verificar a ESR de quaisquer valores de capacitores com capacitâncias acima de 4,7 µF.
O procedimento se resume em aplicar no capacitor, uma frequência de 120 Khz em série com um resistor de 4,7 Ω e medir a tensão sobre o capacitor. Veja na figura 4.


 Como a reatância capacitiva de um capacitor de 4,7 µF a essa frequência é de 0,28 Ω, a tensão sobre ele será muito baixa caso ele esteja bom.
Com capacitores superiores a 22 µF, a reatância se torna desprezível, inferior a 0,06 Ω, o que resulta numa tensão de quase 0 volt sobre ele.
Isso significa que, quanto maior for a tensão apresentada pelo osciloscópio, maior será a ESR do capacitor.
Na tabela da figura 5 podemos ver o valor aproximado da ESR a partir do valor da tensão lido na tela do osciloscópio. Valores de ESR superiores a 2 Ω indicam capacitores ruins que estão causando defeito no aparelho ou que vão apresentar problema em breve.
Fig. 5


OBS: A tabela foi construída considerando-se um capacitor de 22 µF. Para outros valores de capacitância, os resultados serão aproximados.
Se você gostou deste artigo, não deixe de fazer o curso de investigação de defeitos com Osciloscópio em televisores de Plasma, LCD e LED na Esate, onde estarei abordando estes e outros assuntos com aprofundamento.
A partir de fevereiro a Esate estará com uma bateria renovada de cursos revisados e atualizados nas áreas de Computação, Eletrônica, Componentes SMD,Televisores modernos, Mesas de Som, Monitores, Blu Ray, Aparelhos de Som modernos, Fornos de Microondas, Projetos, Filmagem Fotografia e Edição de imagem, vídeo e som.
Acesse nosso site: www.wix.com/novaasfeteb/esate . E não deixe de se relacionar conosco também através do Facebook (Esate Asfeteb) http://www.facebook.com/profile.php?id=100003405630763  e-mail: esate.asfeteb@ig.com.br , você estará em contacto comigo e com outros amigos da profissão.
Mais detalhes, ligue para (21)2655 0312.
Waldyr Souto Maior é professor de eletrônica na ESATE, possui cursos no exterior, é autor de alguns livros técnicos e é vice-presidente da Asfeteb (Associação Federal dos Técnicos em Eletroeletrônica do Brasil: esate.asfeteb@ig.com.br)


Nenhum comentário:

Postar um comentário